Tuesday 24 February 2009

Casas de banho e desenvolvimento

Lembro-me ter lido desta associação – casas de banho e desenvolvimento – num livro de Gustavo Esteva. Uma ilustração muito válida em como as nossas ideias sobre desenvolvimento económico e melhoria das condições de vida estão impregnadas pela nossa cultura. Mas queremos levar os “benefícios” do desenvolvimento a todo o mundo, não só aos que partilham os nossos valores e ideais culturais.

Em Portugal a introdução de casas de banho e saneamento público é relativamente recente, do tempo dos nossos pais, pelo que se percebe que o Sr. Adriano ainda prefere sair da casa bem equipada para procucrar uns arbustos. A noção de que casas de banho são um bem essencial e uma necessidade universal ainda não está a 100% enraízada na sociedade (rural) Portuguesa, pelo que o meu exemplo poderá ser menos estranho do que ele pareceria a um público nórdico.

Vejamos o caso segunite. Uma amiga minha foi para uma aldeia na Índia de que soube que houve um projecto financiado por uma dada associação de cooperação e desenvolvimento para a construção de saneamento básico e casas de banho em cada casa. A minha amiga então tomou a liberdade de pedir poder usufruir daquele luxo. “Tens que ir lá fora” foi o que lhe disseram. Então ela insistiu que ela sabia que eles tinham que ter uma casa de banho, porque foi construído naquele projecto e tal... Responderam: “Ah!...A casa-de-banho? Nós usamos para guardar lenha.” Claro, óbvio! Aquele sítio tinha que ter uma utilização melhor, mais útil, do que aquela para que foi pensado! Passeando pela aldeia a minha amiga descobriu que todas aquelas casas-de-banho eram usadas para vários fins, mas o armazenamento de lenha era claramente o uso predominante!

Está claro como água: o que nós julgamos que é uma necessidade básica, um bem essencial, noutras culturas não é considerado como tal. Exactamente como Ted Benton afirma: a pirâmide das necessidades de Maslow cai por terra, porque não considera a relatividade cultural das necessidades humanas! (Nem considera a interligação entre as várias necessidades, mas isso é outro assunto.) O que numa cultura é um bem alimentar básico noutra cultura nem se quer é considerado comestível. Portanto tentar satisfazer as necessidades básicas primeiro, tal como é pensado nas estratégias de desenvolvimento económico, implica impor as ideias ocidentais sobre necessidades básicas nas restantes culturas. O que é uma necessidade básica para nós é o que apoiamos que seja desenvolvido como prioridade nos países do Sul, embora isso possa colidir com necessidades e práticas culturais de lá.

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