Wednesday, 6 February 2008

O apicultor de Orn

Chamar-lhe de apicultor é um pouco exagerado, traduzindo à letra chamar-se ia “o homem das abelhas”. Então é mais ou menos assim...

Vivia algures um velho gordo numa cabana isolada na margem da floresta. O homem tinha abelhas, tinha muitas abelhas. A cabana toda dele parecia uma colmeia enorme. Sempre estavam abelhas a sair e a entrar e a sussurar em volta da cabana. O homem das abelhas não tinha medo delas e vivia ali com elas numa certa harmonia. Como era de esperar, ele comia mel ao pequeno almoço, ao almoço e ao jantar. E mel com mel e mel.

Um dia passou um aprendiz de mago pela sua cabana, espreitou pela janela da porta e viu o velhote, sentado à mesa e a comer mel. Uma sensação estranha se apodorou dele. E, a partir de então, sempre que o aprendiz de mago nas suas viagens passava pelo caminho que passava pela cabana do homem das abelhas espreitou para dentro de casa dele e conversou um pouco com ele. O aprendiz de mago estava muito admirado como modo de vida do apicultor e disse-lhe: “Ó homem, eu julgo cá para mim que você foi encantado, que esta figura que tem hoje em dia é resultado de um encanto que algum bruxo mau lhe fez. Mas eu quero ajudá-lo. Você parta à procura da sua figura real, à procura do que teria sido se não tivesse sido encantado numa certa altura da sua vida. Depois, quando eu tiver a minha formação completa, farei tudo para lhe ajudar a voltar à sua vida incial.”

Dito isto o aprendiz de mago seguiu caminho e deixou o apicultor muito intrigado. “Mas o que terá eu sido antes de tomar esta figura por algum encanto?”. A partir de aí começou a imaginar o que poderia ter sido. Talvez uma princesa de vestido cor-de-rosa? Ou um padre? Estes pensamentos ocupavam-o cada vez mais até que ele decidiu, intrigado, de que tinha que ir à procura do que ele terá sido. Quer tenha sido bom, quer tenha sido mau, ele precisava de saber o que tinha sido antes de se ter tornado no homem das abelhas.

Sendo assim, ele preparou uns cestos-colmeia muito engenhosos que ele podia usar como mochila, deste modo andava sempre com um enchame de abelhas atrás e com mel suficiente para se alimentar na sua viagem. E um belo dia solarengo lá partiu à procura da sua verdadeira identidade.

À tarde ele já estava cansado de caminhar e sentou-se à beira de um belo jardim de um palácio onde um conde estava a celebrar o seu casamento. Ao lamber o mel o homem das abelhas observou o conde, todo bem vetsido, jovem e bonito. Começou a pensar para sí “Ai, sinto-me tão atraido a este conde. Será que eu fui um conde antes de ter sido encantado?”. Para escalrecer esta ideia ele entra no jardim para observar a cerimónia e o conde mais de perto. Tudo lhe pareceu muito interessante e ele ficou tão absorvido em olhar que de repente estava à beira do conde e a olhar para ele com grandes olhos. O conde assustou-se com o mau aspecto do homem e ralhou “o que está este velho a fazer aqui no meu casamento? Desapareca já daqui!” E para dar mais ênfase a essa ideia deu um pontapé ao homem das abelhas, e este caio para o meio de uma cebe. Lá no meio da cebe o homem das abelhas pensou cá para sí “Bem, eu nunca teria sido tão bruto com um pobre velhote. Claro está que eu nunca fui um jovem conde, nem nunca quis ser anda disso.”

O velho apicultor seguiu viagem e encountrou muitas situações bizarras e fascinantes, mas nunca uma criatura com que simpatizasse por completo. Até que um dia chegou a uma floresta onde tinha ouvido dizer que havia uma caverna enorme em que habitavam dragões e dinossáurios de vária ordem. “Nunca se pode ter a certeza que não se é na verdade um bicho asqueroso deste tipo. Para fazer a minha tarefa de procura da minha identidade bem feita não posso dar a volta a esse antro de criaturas infernais.” E assim foi caminhando em direcção à abertura da caverna. Perto da entrada encontrou um moço sonolento que dizia que queria também entrar na caverna, pois estava à procura de uma solução para o seu cansaço eterno, mas já não tinha forças para entrar sózinho.

Então seguiram os dois para a caverna e, a poucos metros dentro da caverna aproximou-se deles um gnomo asqueroso, pequenino, irrequieto e com ar maldoso. “O que desejais?” perguntou ele, e então o moço sonolento e o homem das abelhas explicaram o que vinham fazer. O gnomo maldoso achou muito bem. A primeira proposta dele para acordar o moço sonolento foi atirar-lhe com o enchame de abelhas que o apicultor trazia nas costas. Mas o moço sonolento recusou-se de participar numa terapia tão brusca. Então o gnomo mandou o apicultor dar uma volta pela caverna, pois achava muito provável que o homem das abelhas teria sido um dragão raivoso antes de ter sido encantado.

Entretanto o gnomo quis levar o moço sonolento para a caverna onde um dragão de 7 cabeças dormia há 44 anos sem se mexer, para ver se o aspecto terrível do animal acordasse o moço sonolento. De facto, quando o moço e o gnomo se aproximaram da entrada da caverna o dragão piscou um olho no seu sono profundo. O moço sonolento percebeu isso como uma ameaça e ficou convencido de que o gnomo o queria enganar, pelo que começou a espontapeá-lo e a correr atrás dele até à saída da caverna. Foi deste modo que a sua sonolência foi, em fim, curada.

O homem das abelhas passeava calmamente de uma caverna para outra, no meio dos corredores escuros subterrâneos e viu uma criatura monstruosa a seguir à outra, sem se conseguir identificar com nenhuma delas. De repente ouviu um choro agudo de bebé numa caverna próxima, precipitou-se a correr para lá para ver o que se passava. Encontrou um dragão enorme com um recém-nascido nas garras, pronto para o devorar. Num acto de coragem o homem das abelhas tirou a sua mochila-colmeia e atirou a com toda a força para a cabeça do dragão. As abelhas saíram enfurecidas e começaram a picar o dragão em todo o lado. O dragão na tentativa de se livrar das abelhas deixou cair o bebé, que o homem das abelhas rapidamente apanhou. O homem das abelhas fugiu com o bébé nas mãos a correr para sair da caverna, sempre com medo que o dragão os apanhasse.

Passado o perigo o homem das abelhas olhou com ternura para o bébé e decidiu que, antes de continuar a sua viagem, ia à procura da mãe do bébé ou de alguêm que o pudesse criar. Depois de umas horas de caminhada chegou a uma aldeia e ao atravessar a aldeia dá de caras com uma mulher que está a chorar. Quando ela vê o bébé fica encantada e diz que se trata do bébé dela que lhe foi roubado durante a manhã por um dragão horrível. O homem das abelhas conta-lhe tudo o que se passou e ela convida o para a sua casa para jantar. O homem das abelhas, quando se quer despedir, apercebe-se como sente uma atracção extremamente forte pelo bébé, pede para ficar uns dias e nesses dias fica cada vez mais convencido que ele, antes de ter sido o homem das abelhas, teria sido um bébé.

De alguma forma ele consegue chamar o mago e com esforços de vários magos eles conseguem transformar o homem das abelhas num bébé. A senhora aceita criar o bébé homem das abelhas, por gratidão de ele ter salvo o seu filho.

Muito anos passam e o mago entretanto é um velho sábio. Numa das suas viagens passa pela cabana do homem das abelhas e lembra-se desta história e como ele conseguiu ajudar a este homem desgraçado. Vê que estão ainda muitas abelhas a voar em volta da cabana e decide espreitar pela porta da janela para ver o estado em que tudo está. Quão admirado ficou ele, ao ver o velho homem das abelhas, sentado à mesa a comer um prato de mel.

Livro original de Frank R. Stockton, Maurice Sendak "The Bee-Man of Orn "

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