Wednesday, 28 November 2007

O caso de Cambarinho

Cambarinho é uma pequena aldeia na Serra do Caramulo, no concelho de Vouzela. É conhceida entre amantes da natureza pela presença de Rhododendron ponticum nas margens de uma ribeira, constituindo a Reserva Botânica de Cambarinho.

As casas da aldeia ficam situadas numa encosta norte, seguem os campos agrícolas no vale, sendo a área explorada limitada pelo corte feito pela autoestrada A25, a norte da qual os terrenos pertencentes a habitantes da aldeia estão abandonados ou têm plantações florestais que necessitam de pouco maneio.

Agora acontece que na vila a sul de Cambarinho, Campia, se instalou uma zona industrial. Os camiões acedem esta zona industrial vindo pela autoestrada e atravessando Cambarinho. A estrada da aldeia não é muito larga e tem algumas curvas estreitas em que o cruzamento de camiões é difícil.

Já há bastante tempo considera-se a construção de uma estrada alternativa para a zona industrial. A sua construção foi mesmo assegurada no PDM do início dos anos 1990, através da designação de um trexo dos terrenos agrícolas como zona urbana. Na altura esta vaga ideia e a discussão do PDM não levou à intervenção da população local, mas agora que a Câmara Municipal de Vouzela quer avançar com a construção da estrada, os habitantes de Cambarinho estudam e temem o impacto que essa obra irá ter sobre os seus terrenos agrícolas.

Os habitantes da aldeia são sobretudo agricultores familiares, muitos deles já em idade de reforma, mas que, mesmo assim, continuam a produzir e a manter a paisagem agrícola e os conhecimentos ecológicos e culturais associados a esta. A produção agrícola também ajuda a complementar uma reforma reduzida ou ordenados baixos e mantém os Cambarinhenses mais idosos em forma, mental- e físicamente, estando ocupados com uma actividade sã e tranquila.

A construção de uma estrada a atravessar os terrenos agrícolas iria ter um impacto enorme sobre os modos de vida da população local. Primeiro, a largura da estrada em sí já afectaria uma grande área dos terrenos agrícolas, mas, segundo, a obra iria interferir com o curso de água, que é essencial para a fertilidade daquele sistema agrícola, potencialmente tornando toda a área imprópria para a continuação da agricultura. Os habitantes locais também temem que a travessia da estrada planeada causará problemas, tal como aconteceu com a A25. Existem pouquissimas passagens para peões, o que implica que os agricultores têm que percorrer por vezes vários Km de distância para chegar aos seus terrenos. Então levar as cabras ao pasto ou ir com a burra buscar mato ao outro lado da estrada já não compensa para muitos.

Os habitantes de Cambarinho formaram uma associação para defender os seus terrenos agrícolas da construção da estrada; a Associação de Defesa dos Interesses da Cambarinho (ADICA), - “absolutamente ridícula” aos olhos do presidente da Câmara que insiste que é só uma minoria dos habitantes da aldeia que não concorda com o troço definido pela Câmara Muncipal.

Os membros da ADICA defendem que a estrada se deveria construir do lado Este da aldeia, entre a aldeia e a Reserva Botânica. No entanto, o efeito que esta estrada poderia ter sobre a Reserva Botânica deixa associações ambientalistas reticentes em apoiar a ADICA, embora a mais valia ecológica e social da continuação de práticas agrícolas tradicionais seja reconhecida.

A questão do troço da nova estrada foi bastante debatida. A Câmara Muncipal insiste que o troço entre a aldeia e a Reserva não será fazível devido ao declive elevado, que iria comprometer os fundos da UE, que a Câmara quer aceder para a execução da obra. No entanto, a ADICA mantêm que a inlcinação não é tão elevada como a Câmara adiantou e insiste que um estudo sério desta opção deveria ser feito. Entretanto a Câmara está decidida em construir a estrada pela zona de Reserva Agrícola desanexada para este popoósito e os residentes de Cambarinho já exigem apenas uma compensação justa.

Esta situação é bastante desconsoladora, visto a industrialização do meio rural acelerar a decadência da cultura tradicional e dos meios de vida mais sustentáveis, e não haver modos legais específicos que previnam que o interesse no progresso industrial venca os interesses mais ecologicamente e socialmente sustentaveis da população local.

Agricultora mostra os terrenos agrícolas que seriam destruidos pela estrada, do alto da aldeia.

3 comments:

Dylan said...

Acabei de fazer um artigo sobre este tesouro...

Miguel said...

A variante a Cambarinho já tem betuminoso, e deve ser inaugurada até ao final do ano!

Lafoes said...

Uma verdadeira catástrofe e uma autentica vergonha, para Campia e sua Junta de Freguesia, (que tem um presidente "Pois sim senhor")para o Concelho de Vouzela e sua Camara (que tem um presidente arrogante, ditador e ignorante) para o distrito de Viseu, que depois de tanta polemica, o Governador Civil deveria ter intervido, e para o país, onde RAN, REN, Ministério do Ammbiente, do Ordenamento do Território e Obras publicas, permitiram que um louco como Hitler levasse a cabo o seu projecto de destruicao.