De 23 a 26 de Outubro houve o VII Colóquio Ibérico de Estudos Rurais na ESAC em Coimbra e eu fui apresentar o meu já famoso (em meio familiar!) "Flooding of the foodshed". Tive ainda a pensar em traduzir o título, mas dava algo como "Inundação da bacia alimentar", então preferi ficar quieta... ;-)
No que concerne à língua já achei curioso como na Península Ibérica se organizam encontros que não têm língua oficial e em que se recorre ao Portunhol. Mais estranho ainda num congresso científico em que normalmente se dá tanta importância a usar os conceitos certos e definí-los adequdamente (por mim até prefiro conceitos vagos e ideias boas do que ao contrário). Pensei ainda que apenas eu achava estranho o Portunhol ser língua oficial de congresso, mas durante o evento houve imensas oportunidades de ouvir as pessoas a queixarem-se que não percebiam a outra língua ou que ficavam cheios de sono nas apresentações na outra língua.
Gostava de comentar algumas ideias defendidas pelo Prof. Oliveira Baptista na sua apresentação, por ele ser tão influente nos Estudos Rurais em Portugal:
1. Oliveira Baptista insiste que o meio rural está a passar de um espaço de produção para um espaço de consumo. E ponto final. O meu problema está relacionado com o ponto final. Não há que descordar de que esta tendência se verifica: as estatísticas bem o comprovam. Mas aceitar que esta é a tendência e pronto é que não me parece desejável. Pois, quais são as consequências a nível ecológico e social desta transição rural? Creio que não se pode ficar na análise estatística de indicadores, temos que pensar se é isto o que a sociedade quer e o que a beneficia.
2. "Não posso estar de acordo com o lamento sobre o despovoamento do rural", "não devemos fazer do despovoamento um problema" e "quem foi, foi e não se arrependeu". É bastante óbvio que as pessoas que emigram dos espaços rurais Portugueses fazem-no sobretudo devido a pressões económicas, não por livre vontade. Como não conseguem ter condições de vida dignas no espaço rural vêem se obrigadas a procurar emprego em áreas mais ou menos longínquas. Julgo que isto sim é um problema. Um problema que não se pode analizar da perspectiva de que é indiferente para as rochas da Serra de haver lá perto moradores ou não. Claro que as medidas tomadas na primeira metade do século passado para manter a população no meio rural não foram as mais adequadas, mas não se trata de defender de fazer algo semelhante agora, mas sim de criar condições económicas e infraestruturas sociais para que uma vida digna em meio rural seja possível para quem a desejar.
3. Pareceu também que o Prof. Oliveira Baptista é contra os subsídios de apoio à agricultura em zonas desfavorecidas devido ao facto de ele achar que isto é subsidiar benefícios puramente privados. A ideia que foi defendida é que pagar um agricultor para ter uma propriedade pouco ou nada produtiva em boas condições beneficia apenas o agricultor. Não quero prolongar-me aqui a discutir subsídio sim ou não para áreas desfavorecidas, queria apenas frisar que os benefícios da manutenção da pequena agricultura não vão apenas para o proprietário, pelo que este argumento contra a subsidiação da agricultura em áreas desfavorecidas não é válido. É mais que sabido e provado que a manutenção de explorações marginais trás benefícios em termos de biodiversidade, agrobiodiversidade e serviços de ecossistemas para a população em geral, pelo que um subsídio público é justificável desta perspectiva.
Isto é o que tinha a dizer em relação à apresentação do antigo ministro da agricultura. Houve três outros assuntos e projectos que me interessaram bastante:
1. Reciproco - o sistema de venda directa de cabazes de pequenos agricultores para consumidores, tal como já acontece em Odemira, Setúbal e S. Pedro do Sul. (A Associação TAIPA e o projecto CriarRaízes têm mais informações!);
2. O projecto da Escola Agrária de produção de maçãs de variedades regionais Portuguesas em Modo de Prodção Biológico. As maçãs eram lindas e gostosas e acho que mudaram a minha noção de "maçã". Na minha ideia era uma fruta mais ou menos secante e sensaborosa e agora vejo as maçãs como uma verdadeira criação divina (apesar de que Deus deve ter tido um papel menor que os agricultores nos processos de melhoramento para produção das variedades tradicionais).
3. Soube de um projecto que está a decorrer desde os anos 80 no Vale de Sousa, de melhoramento participativo de variedades de milho regionais...
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1 comment:
olá não deves estar a ver quem é mas sou o filipe que esteve também no congresso e que trabalha no MUral da qual tu chegaste a fazer parte:-) Estava aqui a tratar de uns pagamentos relativos ao congresso e vim parar ao teu blog que gostei muito e vou guardar nos favoritos para acompanhar as novidades. Tb tenho um blog não tem nada a ver com estudos rurais ou outros assuntos relacionados mas sim com fotografia(http://filipeglance.wordpress.com/), e tb faço o blog relativo a um grupo Dynamo que se junta para debater diversos problemas relativos à ecologia paisagistica etc da qual a Teresa é a coordenadora. (http://dynamo08.wordpress.com/).
adeus, boa sorte ai por Inglaterra.
Filipe
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