Tuesday, 28 July 2009

Prémio ao arranque da Vinha

Desde que vi o primeiro póster a anunciar o "Prémio ao arranque da vinha" tive um fascínio perverso por esta medida da PAC. Como é que é possível que se possa ter chegado ao ponto de dar dinheiro, e não pouco, a quem destrua as suas vinhas? Quanto mais produtivas, maior o prémio, (como podem ver na tabela em baixo) para que realmente valha a pena para o produtor.


Ao mesmo tempo continua a haver subsídios de apoio à instalação de vinhas. O objectivo é livrarmo-nos da sobreprodução de vinho e aumentar preços e qualidade do vinho. E que consequências é que isto terá em termos de sustentabilidade ecológica da produção vinícola? Se vamos concentrar a produção de vinho nas áreas "mais competitivas" e com as tecnologias mais produtivas, o mais provável é que as práticas sejam ecologicamente menos sustentáveis e a produção de vinho beneficie a um menor número de produtores, do que acontecia com uma produção menos centralizada e concentrada.

Parece-me que vão ser os velhinhos do interior que estão com dificuldades financeiras que lá fazem o sacrifício de arrancar as suas vinhas antigas. Recebem mais dinheiro de uma vez do que em vários anos a venderem as uvas à adega cooperativa. Ainda para mais com as adegas a pagarem aos produtores com anos e anos de atraso. Assim os proprietérios de vinha que não conseguem deixar de tratar da vinha enquanto ela existe, como ela só dá prejuízo decidem arrancá-la. A ideia é que as vinhas de castas menos valiosas sejam arrancadas e certas castas de alta qualidade serem plantadas, mas os velhinhos apenas arrancam para se livrarem do problema de uma vez por todas. Ouvi dizer que no concelho de Figueira do Castelo Rodrigo as vinhas quase todas vão desaparecer.

Acontece que as vinhas têm que estar legalizadas para que o proprietário possa receber o prémio ao arranque da vinha. A legalização é bastante cara, às vezes superior ao prémio ao arranque da vinha. Mas uma vez que o agricultor foi ao ministério dizer que quer arrancar x hectares de vinha, da qual y hectares não são legais, fica obrigado a legalizá-las. Às vezes os agricultores ao conhecerem melhor as condições do prémio decidem que não querem arrancar, mas já disseram que tinham vinha ilegal, então têm mesmo que fazer e pagar o respectivo registo.

A medida de manutenção da agricultura em áreas desfavorecidas tem um prémio máximo de 350€ por hectare por ano (em áreas Rede Natura), sendo a área mínima necessária para aceder ao apoio 1ha de Superfície Agrícola Utilizada (SAU).

Monday, 20 July 2009

Good will or ill

One thing that I've noticed, but can't in any way proof or assume to be a fact, is that in this lovely garden next to the sea (Portugal) things work exclusively out of good will or they simply don't. 'No one' feels bound to keep up their promises, or better, 'no one' feels like promising anything, 'cause 'they' follow the whims of the moment and hate nothing more than to commit to something or being held responsible.

When I've worked in the NGO here it was very obvious. "Let's see what happens" was sort of the major conclusion of all meetings set up to solve a specific problem. "Who does what?" was a tabu question. Volunteers might say "I'll try to do XYZ." But they would say it in a way like "I might have the generosity to contribute by doing XYZ", but giving no certainty that they would actually do it. Therefore it would be very impolite to ask next meeting "Have you done XYZ?". No, we would have to wait, talk about the problem and hope the person would by himself reveal whether he did XYZ or not. It was impossible to organize, because no one could be held responsible for doing anything, so tasks could not be shared effectively.

Quite common, very commonly, people help freely in the way they feel to be right, they might give generously all their harvest. But if you ask them for one single potato they feel cornered and that the impossible is being asked from them. In consequence they become defensive. "How do you dare to ask me for the poatato that is lying forgotten in a corner?" And they will pretend they are forgetful, they can't bend to pick it up and whatever, just to not do what you kindly asked them. They love being generous and doing things out of good will, and they do loads of things like that. But if you ask them to please do something, the good will evaporates as fast as frozen nitrogen in room temperature.

I remember that friends found it even impolite if, sitting in their car, I asked where they were driving to. One clearly always ignored the question, never replied. Maybe he felt this as an afront, that I did not trust him to drive to a good place or that I was trying to interfere in his decision to drive somewhere, when in fact he was being so generous to take me with him.

Am I making an elephant out of some minor and unrepresentative anecdotes?

Monday, 6 July 2009


Wednesday, 1 July 2009

Década de Salomé

Década De Salomé
(José Afonso)

Vai terminar esta prosa
Estamos na década de Salomé
Será o Apocalipse
ou a torneira a pingar no bidé?

É meio dia dia de feira mensal
em Vila Nogueira
Estamos na década do bricolage
Diz o jornal que um emigra
morreu afogado em Mira
Antes da data
Do mariage

Estamos na Europa civilizada
já cá faltava uma maison
pour la patrie p'lo Volkswagen
acabou-se a forragem
viva o patron!

Já tem destino esta terra
vamos mudar para o marché aux puces
o tempo das ceroilas está no fio
agora só de trousses.

É meio dia dia de feira mensal
em Vila Nogueira
Estamos na década do bricolage
Diz o jornal que um emigra
morreu afogado em Mira
Antes da data
Do mariage.

Saem quarenta mil ovos moles
Vilar Formoso é logo ali
faz-se um enxerto
com mijo de gato
Sola de sapato
voilá Paris!

Aos grandes supermercados
chega cultura num bi-camion
Camões e Eça
vendem-se enlatados
lavados com «champon»

É meio dia dia de feira mensal
em Vila Nogueira
Estamos na década do bricolage
Diz o jornal que um emigra
morreu afogado em Mira
Antes da data
Do mariage

Estamos na Europa
radarizada
já cá faltava uma turquês
para o controle do bravo e do manso
vivaço e do tanso em cada mês!

A fina flor do entulho
largou o pêlo ganhou verniz
Será o Christian Dior
o manajeiro a mandar no país?

Estamos na Europa do «estou-me nas tintas»
nada de colectivismos
chacun por si,
meu e chcaun por soi
tê vê e cama depois da esgaça
até que lhes dê a traça
a culpa é toda do erre Hagá.

Levam-te à caça dos gambuzinos
com dois ouriços
em cada mão
ai velha fibra do bairro de Alfama
a carcaça do Gama vai a leilão!

Feeding the world or letting it feed itself

"Moreover, we agree on promoting solutions to help the world feed itself, to enable communities to produce their own food instead of solutions of those who aim at feeding it. And this is because we defend the rights of the peoples to define and control their food and food production systems, local, national, ecological, fair and sovereign. In fact, that is food sovereignty: the ability for people to choose what and how to produce, and how to trade it. "

La Via Campesina